17/12/2025

Coreia do Norte Declara Coreia do Sul um “País Hostil” e Aumenta Tensão na Península Coreana

 

A já delicada relação entre as duas Coreias, separadas por uma das fronteiras mais militarizadas do mundo, atingiu um novo patamar de tensão após o governo da Coreia do Norte, sob a liderança de Kim Jong-un, declarar formalmente a Coreia do Sul como um “país hostil”. A declaração, que aconteceu em um momento de crescentes exercícios militares conjuntos entre Seul e Washington, marca uma deterioração significativa das relações diplomáticas entre os dois vizinhos, aprofundando o abismo que os separa desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953).

 

Contexto Histórico de Conflito

As relações entre as Coreias têm sido marcadas por um ciclo repetido de hostilidade e tentativas frustradas de diálogo, com um cessar-fogo ainda em vigor desde 1953, sem nunca ter sido substituído por um tratado de paz formal. A recente escalada retórica ocorre num contexto de desconfiança mútua, onde a Coreia do Norte, uma nação isolada e governada sob um rígido regime ditatorial, vê as atividades militares da Coreia do Sul e dos Estados Unidos como uma ameaça direta à sua segurança.

Nas últimas semanas, a Coreia do Sul e os Estados Unidos realizaram uma série de exercícios militares de grande escala, simulando cenários de guerra contra a Coreia do Norte. Pyongyang, por sua vez, denunciou esses exercícios como preparativos para uma invasão. A resposta norte-coreana veio na forma de um comunicado oficial, transmitido pela mídia estatal, onde o regime de Kim Jong-un rotulou o governo sul-coreano como “inimigo” e anunciou que tomará todas as medidas necessárias para se proteger da “agressão”.

 

A Ameaça Nuclear e a Retórica Norte-Coreana

A Coreia do Norte, ao longo das últimas décadas, vem desenvolvendo um programa nuclear que tem sido amplamente condenado pela comunidade internacional. Esse programa tem servido como principal ponto de atrito entre o país e a Coreia do Sul, bem como com outros países da região e potências globais, como os Estados Unidos. A retórica de Pyongyang muitas vezes inclui ameaças de utilizar seu arsenal nuclear contra a Coreia do Sul e os Estados Unidos, algo que torna a atual escalada ainda mais preocupante.

Ao declarar a Coreia do Sul como uma nação hostil, a Coreia do Norte reforça a percepção de que suas ações futuras, tanto no campo militar quanto no desenvolvimento nuclear, podem estar diretamente ligadas à crescente tensão com Seul. Em resposta, o governo sul-coreano, liderado pelo presidente Yoon Suk-yeol, afirmou que não se deixará intimidar pelas ameaças do vizinho ao norte e que continuará a trabalhar em estreita colaboração com os Estados Unidos para garantir sua segurança nacional.

 

Consequências Econômicas e Humanitárias

Além das implicações militares, a declaração da Coreia do Norte também pode ter sérias repercussões econômicas e humanitárias. A já frágil economia norte-coreana, fortemente afetada pelas sanções internacionais, enfrenta uma situação precária agravada pela pandemia de COVID-19 e por desastres naturais que têm impactado negativamente a produção agrícola do país. O isolamento econômico de Pyongyang pode se aprofundar ainda mais com a intensificação das tensões, levando a uma possível redução no comércio informal entre as duas Coreias, que historicamente tem sido uma das poucas vias de acesso para a população norte-coreana a bens essenciais.

Do ponto de vista humanitário, a deterioração das relações entre as Coreias pode dificultar ainda mais os esforços internacionais para fornecer ajuda à população norte-coreana, que sofre com a escassez crônica de alimentos e medicamentos. Organizações humanitárias têm tido acesso limitado ao país, e a atual crise política pode significar um bloqueio ainda mais rígido à entrada de ajuda externa, exacerbando a situação das pessoas mais vulneráveis.

 

Reação Internacional

A declaração da Coreia do Norte foi recebida com preocupação pela comunidade internacional. O governo dos Estados Unidos, principal aliado da Coreia do Sul, reiterou seu compromisso com a defesa de Seul e condenou a retórica beligerante de Pyongyang. O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, em coletiva de imprensa, afirmou que Washington está monitorando de perto a situação e que continuará a pressionar a Coreia do Norte a abandonar suas ambições nucleares através de sanções e pressão diplomática.

A China e a Rússia, que historicamente têm mantido relações diplomáticas e econômicas com a Coreia do Norte, também reagiram à declaração. Pequim, que tem se posicionado como mediadora entre as Coreias, pediu contenção de ambas as partes e apelou para o diálogo como meio de resolver as tensões. Moscou, por sua vez, fez uma declaração cautelosa, pedindo a suspensão dos exercícios militares conjuntos entre Seul e Washington, que, segundo o governo russo, têm exacerbado a instabilidade na região.

 

O Futuro das Relações Intercoreanas

A perspectiva de uma reaproximação entre as Coreias parece cada vez mais distante. Desde o colapso das negociações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, em 2019, não houve avanços significativos no diálogo intercoreano. O governo sul-coreano já tentou, em várias ocasiões, abrir canais de comunicação com Pyongyang, propondo projetos conjuntos em áreas como infraestrutura e turismo, mas essas iniciativas foram frustradas pela falta de reciprocidade por parte do regime norte-coreano.

Especialistas em política internacional alertam que a situação na Península Coreana pode se deteriorar ainda mais se a atual escalada de tensões não for contida. A falta de diálogo efetivo entre as partes, combinada com o aumento das capacidades militares da Coreia do Norte, cria um ambiente volátil, onde até mesmo pequenos incidentes podem desencadear um conflito de grandes proporções.

A declaração da Coreia do Norte de que a Coreia do Sul é agora um “país hostil” marca um novo capítulo sombrio na já turbulenta história da Península Coreana. Enquanto a comunidade internacional busca formas de evitar que a situação escale para um conflito aberto, as duas Coreias seguem presas em uma espiral de desconfiança e retaliação. A continuidade desta crise dependerá não apenas das ações dos líderes de ambos os países, mas também do papel que as potências regionais e globais estão dispostas a desempenhar na busca por uma solução pacífica e duradoura.

O futuro da paz na Península Coreana permanece incerto, e o mundo observa atentamente os desdobramentos deste conflito congelado, cujas consequências podem reverberar muito além das fronteiras asiáticas.