Alemanha em Pauta: Um Retrato das Eleições que Moldam o Futuro da Europa

Sob o céu cinzento que paira sobre a capital alemã, os cidadãos se dirigem às urnas em um momento crucial para o destino não apenas da Alemanha, mas de toda a União Europeia. As eleições federais de 2025, que decidirão a composição do Bundestag e, consequentemente, o próximo chanceler, são marcadas por um cenário político complexo, desafios econômicos e questões sociais que refletem as tensões de um mundo em transformação.
A Alemanha, conhecida por sua estabilidade política e econômica, enfrenta um período de transição. A saída de Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), após um mandato marcado por crises globais e reformas internas, abre espaço para uma nova liderança. O cenário político é fragmentado, com seis partidos principais competindo por espaço: a União Democrata-Cristã (CDU), o SPD, os Verdes (Bündnis 90/Die Grünen), a Alternativa para a Alemanha (AfD), o Partido Democrático Liberal (FDP) e o partido de esquerda Die Linke.
A CDU, tradicional força conservadora, busca retomar o protagonismo após anos de desgaste, enquanto os Verdes, fortalecidos pela crescente preocupação climática, apresentam-se como uma alternativa progressista. O SPD, por sua vez, tenta manter sua base eleitoral com um discurso que equilibra justiça social e pragmatismo econômico. Já a AfD, partido de extrema-direita, continua a polarizar o debate, capitalizando o descontentamento com a imigração e a globalização.
As eleições de 2025 são definidas por três eixos principais: a transição energética, a coesão social e o papel da Alemanha na Europa e no mundo.
A Alemanha, que decidiu abandonar a energia nuclear e reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, enfrenta o desafio de acelerar sua transição para fontes renováveis. Os Verdes defendem metas ambiciosas, enquanto a CDU e o SPD buscam um equilíbrio entre sustentabilidade e crescimento econômico. A AfD, por outro lado, critica o que chama de “política climática radical”, argumentando que ela prejudica a indústria alemã.
A desigualdade e o envelhecimento populacional são questões urgentes. O SPD e Die Linke propõem aumentos nos gastos sociais e reformas tributárias progressivas, enquanto a CDU e o FDP defendem a contenção de gastos e a manutenção de uma economia competitiva. A imigração também permanece um tema sensível, com a AfD defendendo políticas restritivas e os demais partidos buscando integrar os imigrantes de forma pragmática.
A guerra na Ucrânia e as tensões geopolíticas globais colocam a Alemanha em uma posição delicada. A CDU e o SPD defendem um fortalecimento da OTAN e da UE, enquanto os Verdes enfatizam a necessidade de uma política externa baseada em direitos humanos. A AfD, por sua vez, critica o que vê como uma submissão aos interesses de Bruxelas e Washington.
O eleitorado alemão está mais diversificado e exigente do que nunca. A geração mais jovem, mobilizada pelas questões climáticas, tende a apoiar os Verdes, enquanto os eleitores mais velhos, preocupados com a segurança e a estabilidade, gravitam em torno da CDU e do SPD. A classe trabalhadora, outrora base do SPD, está dividida entre o partido tradicional e a AfD, que conquistou espaço em regiões industriais afetadas pela globalização.
A participação eleitoral, no entanto, é uma incógnita. O desencanto com a política tradicional e a complexidade dos desafios atuais podem levar a uma abstenção significativa, especialmente entre os jovens e os menos favorecidos.
A disputa pelo cargo de chanceler é acirrada. Friedrich Merz, da CDU, busca restaurar a confiança no partido com uma agenda conservadora moderada. Já Annalena Baerbock, dos Verdes, representa uma virada geracional e ideológica, prometendo uma política mais verde e inclusiva. O SPD, liderado por Lars Klingbeil, tenta manter sua relevância com uma plataforma social-democrata renovada.
A formação de coalizões será inevitável. A possibilidade de uma “coalizão semáforo” (SPD, Verdes e FDP) ou de uma aliança conservadora (CDU e Verdes) está no horizonte, mas a fragmentação partidária e as divergências ideológicas podem complicar as negociações.
As eleições de 2025 na Alemanha são mais do que uma disputa partidária; são um reflexo das encruzilhadas que o país e a Europa enfrentam. Em um mundo marcado por incertezas, a escolha dos eleitores alemães terá repercussões profundas, não apenas para a nação, mas para o projeto europeu e a ordem global.
À medida que as urnas se fecham e os votos são contados, uma coisa é certa: a Alemanha está diante de uma decisão que moldará seu futuro e, por extensão, o destino de todos nós.