O Voo ou o leito do rio na jornada filosófica

Por Edilza Ribas
Partindo do princípio de uma reflexão filosófica, é sempre uma reflexão instigante de um contemporâneo viver, temos como características dos pensamentos filosóficos, a busca compromissada pela totalidade ou complexidade da realidade,na busca continuada de novas e detalhadas leituras do mundo, de forma sucessiva e estruturada, vez que a filosofia busca transcender, e não pretende absolutar, o pleno conceito da verdade, entre muitos já existentes, mas de inter-relaciona-los em diálogos, na apreciação das divergências e diferenças, entre os sujeitos que como portadores de ideologias, sendo estaspositivas, impulsionam o caminhar humano.
Como diria ao saudoso Cazuza: “ideologia eu quero um pra viver. Ideologia! Eu quero uma pra viver”! Este belíssimo trecho, nos remete a ideia:
“Filosofia! Eu quero uma pra viver”!
Eu sou um ser humano, nascemos humanos ou nos tornamos humanos?
O contexto no cotidiano e a forma de sermos inseridos na sociedade e na família acolhidos dentro de uma tradição cultural, pode determinar o nosso juízo, acerca da moral, da ética e das virtudes, determinando o nosso instinto animal.
Nesse sentido, para John Locke, Deus nos conferiu as faculdades para que pudéssemos adquirir conhecimentos, dentro de certos limites, que é escrita na medida em que vivemos e temos experiência de mundo.
E ao seremos moldados neste contexto cultural, na nossa forma de agir e pensar, ora o tempo nos limita ora o tempo nos impulsiona e nos realiza, temos o livre arbítrio e respondemos por ele. E assim nos remetemos ao grande filósofo Aristóteles, que tinha a plena consciência de que a cada tempo era necessário projetar-se, impulsionar-se, seguir para novos horizontes em busca da felicidade, narrada em sua filosofia peripatética, que seria adquirida no entendimento daquele que traz na consciência de que é “menos do que pode ser” e por isso está em constante mudanças e transformações.
Desta forma a natureza expõe o seu contorno, o rio sem margens não chega a nenhum lugar, as margens por sua natureza determinam a força das águas, a unicidade do movimento e o seu serpentear por entre as pedras, até alcançar a imensidão do mar, o lugar desejado para se despojar.
E assim neste emaranhado a cultura, a liberdade estão intimamente ligadas ao determinismo! Veja bem, quantas vezes não desejou voar como os pássaros e de se sentir livre e leve como as borboletas? Em quantas situações os humanos não gostariam de terem asas coordenadas e harmônicas? Agora, por exemplo, eu gostaria de voar para bem longe, e as minhas limitações estão presas ao determinismo, que num bom latim significa: “determinare”, fixar, delimitar, marcar limites. O nosso corpo sujeita-se a lei da química e da física, com necessidades biopsicológicas, meu instinto animal é delimitado, e nesta condição, fica restrita a minha liberdade.
Sendo assim, o conceito de liberdade está condicionado ao determinismo natural, e então estamos mais uma vez diante de conceitos relativos! O tão sonhado voo dos pássaros, por exemplo, quanta liberdade os olhos conseguem perceber? Ou se, atentamente, sob outra ótica, analisarmos, veremos que os pássaros estão limitado em regra a voar, e eles devem ter ciência das leis da aerodinâmica, assim como, lecionam sobre a importância da comunicação, cooperação, adaptação e mudanças em nossas vidas, já que várias espécies trabalham em conjunto para sobreviverem, e em face de sua condição animal, constata-se a mais pura expressão de que é prisioneiro de sua própria liberdade de voar!
Esta tal liberdade absoluta, apresenta a mais pura ilusão, o seu viver está condicionada à sua natureza, há um limite natural exposto que não te fragiliza, mas te condiciona a compreender que a liberdade se relaciona com a capacidade de saber fazer e saber viver dentro dos contornos que podem te trazer a paz, o bem estar social, dentro de limites legais, extremamente necessários.
Compreendemos a ciência do determinismo, consciência e a liberdade, de que o limite imposto pela natureza, não nos impede de impulsionar, ao contrário, ao
aplicar os ensinamentos da lei da natureza, imprimimos a direção que temos que tomar de acordo com as múltiplas possibilidades, direcionamos o nosso leme com foco, para o porto mais seguro, pois podemos seguir em direção a linha do horizonte cientes de que ao colocarmos margens e limites, feito o rio que serpenteia ao seu destino, podemos nos realizar ao projetar melhor na vida, com consciência, responsabilidade e autodeterminação.
A capacidade de autodeterminarmos, revelam que somos capazes de vincular aos limites impostos, sem esquecer o livre arbítrio, ao submetermos as leis com obediência, impomos a liberdade, que representa a nossa vontade guiada pela razão! Na margem da lei não há liberdade, há domínio, uma circunferência, mas nunca servidão.
Resta-nos uma reflexão silenciosa sobre uma citação indiana que diz que
“onde o homem põe o Pé, encontra-se mil destinos”!