21/06/2025

Por Erika Verde

 

Olá leitores,

 

O Big Brother Brasil (BBB) há muito se tornou uma janela para observarmos não apenas a diversidade de personalidades, mas também para refletirmos sobre as complexas dinâmicas sociais que permeiam nossa sociedade. E não é de hoje, que produzo conteúdo sobre esse reality. No BBB 24, a participação de Davi tem destacado de maneira contundente como estereótipos podem ser reforçados e perpetuados, especialmente quando se trata da representação de homens negros, em particular aqueles provenientes de realidades periféricas.

Davi se posiciona com firmeza no jogo, compartilha suas ideias e estratégias. Por que essa atitude, quando expressa por um homem negro, muitas vezes é interpretada como agressividade? Notou como quando um jogador branco adota uma estratégia assertiva é elogiado, mas quando Davi faz o mesmo, é muitas vezes mal interpretado?

Davi, homem negro e oriundo de uma realidade periférica, tornou-se alvo constante de estereótipos que historicamente foram associados às pessoas negras. A narrativa que se desenha ao redor dele É PREOCUPANTE, já que reflete a persistência de visões simplificadas e preconceituosas. Em um contexto em que a sociedade aspira por igualdade, é fundamental questionar por que, mesmo em um ambiente de entretenimento, esses estereótipos persistem.

Um aspecto evidente dessa narrativa está na dinâmica da casa, onde Davi se encontra frequentemente atribuído a tarefas que remetem a um serviço subalterno. A representação de Davi como o responsável pela xepa e pela preparação da comida ressoa com estereótipos históricos que associam pessoas negras a papéis servis. Este fenômeno não apenas perpetua desigualdades sociais, mas também levanta a questão crucial: o preto só serve para servir?

É irônico observar que, mesmo ao exercer um papel que evidencia suas habilidades culinárias de forma apreciável, Davi ainda enfrenta críticas e insatisfações. Essa resistência das “donzelas brancas” em aceitar e valorizar suas contribuições destaca como as percepções arraigadas podem eclipsar a realidade e reforçar estereótipos prejudiciais.

Na trajetória de Davi no BBB 24, suas conquistas impressionantes, como a bolsa integral para cursar Medicina e benefícios provenientes de provas, são tingidas por uma reação surpreendentemente condescendente. Ao invés de receber merecidos parabéns, algumas sugestões minimizam suas realizações, insinuando que “já está bom para ele”. Este tipo de atitude, além de injusta, destaca estereótipos e subestima o potencial de Davi, implicando que aceitar migalhas é suficiente para alguém de sua origem. A ironia surge quando, curiosamente, é Davi quem é rotulado como agressivo, enquanto enfrenta a expectativa de contentar-se com o mínimo, como se não tivesse espaço para buscar o prêmio máximo no jogo. Este cenário revela a necessidade urgente de desconstruir preconceitos, reconhecendo que todos merecem aplausos por suas realizações e têm o direito de aspirar a conquistas ainda maiores, independentemente de sua história.

A situação de Davi no BBB 24, poderia ser a minha história, Erika, advogada preta que ainda hoje, enfrenta barreiras na carreira.  É uma oportunidade para uma reflexão coletiva sobre a responsabilidade que temos na desconstrução de estereótipos raciais. Enquanto o programa continua sendo parte integrante do cotidiano de muitos brasileiros, é imperativo que as discussões geradas não apenas entretenham, mas também eduquem e sensibilizem.

Desafiar esses estereótipos é um passo crucial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos possam ser reconhecidos por sua individualidade e talento, independentemente de sua cor de pele ou origem.

Com gratidão pela oportunidade de compartilhar  essas reflexões com vocês. Estou aqui para ser além de uma referência na advocacia,  ter  também uma voz ativa na busca por um mundo mais justo e igualitário.

 

Erika Verde é Advogada Especialista em Direito e Processo do Trabalho, membro da Comissão da Verdade da OAB/MA, da diretoria estadual da UBM/MA (União Brasileira de Mulheres) e apoio jurídico do Instituto Pense Minha Cor.