Norte de Gaza não possui mais hospitais funcionais, alerta OMS
A Organização Mundial de Saúde, OMS, alerta que não há mais hospitais funcionando no norte de Gaza. Pacientes feridos que precisam de cirurgia e não podem ser movidos estão “à espera da morte”.
Nesta quinta-feira, a agência da ONU fez um novo apelo por um cessar-fogo para permitir a entrada de ajuda no enclave.
Esgotamento de recursos de saúde
A última avaliação grave da Organização Mundial da Saúde, OMS, veio após equipes chegarem aos hospitais Al Ahli Arab e Al Shifa na quarta-feira, em meio a relatos de operações terrestres intensificadas pelas Forças de Defesa de Israel e contínuos ataques aéreos na Faixa de Gaza, em resposta aos atos do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel.
O coordenador de Equipes Médicas de Emergência da OMS, Sean Casey, afirmou que os pacientes no hospital Al Ahli Arab gritavam de dor e imploravam por água. Ele descreveu “um lugar onde as pessoas estão esperando para morrer, a menos que possamos movê-las para um local mais seguro onde possam receber cuidados”.
Apelo de ajuda
Destacando a necessidade de aliviar a crescente crise humanitária em Gaza, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse na quinta-feira que a falta de eletricidade, combustível e telecomunicações interrompidas restringiram severamente os esforços da ONU para fornecer ajuda vital às pessoas no enclave.
Ele adicionou que as “condições para permitir operações humanitárias em larga escala precisam ser restabelecidas imediatamente”.
Além disso, uma missão para o norte de Gaza envolveu a OMS, o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, o Serviço de Ação contra Minas das Nações Unidas e o Departamento de Segurança e Proteção da ONU. A operação garantiu a entrega de sete carregamentos de medicamentos urgentemente necessários, fluidos intravenosos e suprimentos para cirurgia e para tratar os feridos, juntamente com equipamentos para apoiar mulheres no parto.
Além da entrega de suprimentos médicos para o norte, a crescente e generalizada escassez de alimentos e água preocupa ainda mais.
Sean Casey ainda relatou que as pessoas pedem comida às equipes da ONU, até mesmo no hospital. “Eu andei pelo departamento de emergência, uma pessoa com ferida aberta sangrando, uma fratura exposta, pedem comida. Se isso não é um indicador da desesperança, eu não sei o que é”, afirmou.
Escassez incapacitante
Segundo a agência de saúde da ONU, apenas nove de 36 instalações de saúde em Gaza estão parcialmente funcionais, todas estão localizadas no sul.
Segundo o representante da OMS na região, Richard Peeperkorn, não existem mais salas de cirurgia no norte devido à falta de combustível, energia, suprimentos médicos e profissionais de saúde, incluindo cirurgiões e outros especialistas.
No hospital Al Ahli Arab, aproximadamente 10 funcionários, todos médicos e enfermeiros em início de carreira, continuaram a fornecer primeiros socorros básicos a cerca de 80 pacientes que agora estão abrigados em uma igreja dentro do terreno do hospital, explicou Peeperkorn.
Fome “catastrófica”
Mais de um em cada quatro lares em Gaza está enfrentando fome “catastrófica”, de acordo com um novo relatório de segurança alimentar publicado por organizações humanitárias, incluindo o Programa Mundial de Alimentos, PMA. O levantamento ainda tem o apoio da FAO, OMS, Pnud e Unicef.
Dados do relatório da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar confirmam que há um risco de fome no enclave, a menos que o acesso a alimentos adequados, água limpa, saúde e serviços de saneamento seja restaurado.
A plataforma analisa dados para determinar a gravidade e a magnitude das crises de fome, de acordo com padrões científicos internacionalmente reconhecidos.
Esses números mostram que toda a população de Gaza, aproximadamente 2,2 milhões de pessoas, está vivendo em níveis de insegurança alimentar aguda em crise ou piores.
Isso destaca que pouco mais de um quarto, 26%, dos habitantes de Gaza esgotaram seus suprimentos e capacidades de enfrentamento e agora enfrentam fome catastrófica e inanição.
A diretora executiva do PMA, Cindy McCain, afirmou que a agência tem alertado sobre essa catástrofe há semanas. “Tragicamente, sem acesso seguro e consistente que temos solicitado, a situação é desesperadora, e ninguém em Gaza está a salvo da inanição”, afirmou.
De acordo com os dados, há risco de fome nos próximos seis meses se a situação atual de conflito intenso e acesso humanitário restrito persistir.
Fonte: ONU News