Especialista destaca papel da natureza na adaptação às mudanças climáticas
Representante da ONG Conservação Internacional defende aumento de investimento em soluções baseadas em conservação e restauração de ecossistemas na COP29 e COP30; atualmente apenas 5% dos recursos de planos climáticos nacionais são investidos na área.
A diretora sênior de Adaptação às Mudanças Climáticas da ONG Conservação Internacional, destacou que existe uma “lacuna financeira de bilhões de dólares por ano entre o que é necessário para adaptação e o que está disponível”.
Em entrevista à ONU News, Camila Donatti disse esperar que as negociações da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP29, sirvam para diminuir essa disparidade.
Menos de 5% do recurso nos planos nacionais
A especialista sublinhou que as soluções baseadas na natureza para enfrentar a crise do clima trazem enormes benefícios tanto para as comunidades quanto para o meio ambiente, além de serem custo-efetivas. No entanto, os planos climáticos nacionais, conhecidos como NDCs, ainda investem pouco nessa estratégia.
“Então o potencial é muito grande, mas o recurso destinado ainda é muito pequeno. Então, por exemplo, 90% desses planos que foram analisados no mundo inteiro tem algum componente relacionado à natureza. Mas quando você vê o recurso que está sendo disponibilizado é menos que 5%.”
Camila explica que um exemplo “clássico” de solução baseada na natureza é a restauração de manguezais, que “são fundamentais para reduzir os impactos de erosões e inundações costeiras, protegendo diretamente as comunidades que vivem nessas áreas”.
O exemplo da inundação no Rio Grande do Sul
Outras ações destacadas incluem a manutenção de áreas verdes nas cidades, que ajudam a mitigar impactos de eventos extremos, como as fortes chuvas registradas recentemente no Rio Grande do Sul, no Brasil
“A gente teve um evento muito extremo no Brasil esse ano, no Rio Grande do Sul. Aquela inundação que sem precedentes, que foi causado pelas mudanças climáticas, mas também uma falta de entendimento de como a natureza tem que ser preservada mesmo nas cidades, para a gente poder ter essa forma de não evitar a inundação, mas minimizar um pouco o impacto da inundação nesse caso, então, áreas verdes na cidade são muito importantes. A proteção de áreas e íngremes também. A gente tem muito caso no Brasil de deslizamentos de terras. Então, se a gente preservar essas áreas, respeitar o que está no nosso Código Florestal, a gente pode ter muitos benefícios que são produzidos pela natureza”.
Camila adicionou que áreas verdes são cruciais, tanto para reduzir impactos imediatos quanto para criar cidades mais resilientes a longo prazo.
Expectativas com a COP30
A especialista destacou ainda que a natureza não beneficia apenas a adaptação climática, ela também contribui para a mitigação das emissões, proteção da biodiversidade e suporte ao sustento das comunidades locais.
No entanto, muitas vezes soluções tradicionais, como a construção de infraestruturas, são priorizadas em detrimento de alternativas baseadas na natureza. Ela defendeu que é preciso mudar essa mentalidade e reconhecer que a natureza já está ali como uma aliada que precisa ser protegida e restaurada.
Com a próxima COP30, que será realizada no Brasil, Camila Donatti expressou otimismo sobre o potencial de destacar as soluções climáticas baseadas na natureza. Ela disse que essa será uma oportunidade de mostrar ao mundo o que o Brasil e outras ONGs têm feito para enfrentar a crise climática.
Além disso, ela mencionou que a implementação e o monitoramento dessas soluções são essenciais para comprovar sua eficácia e ganhar a confiança de tomadores de decisão.