22/12/2024

Estima-se que 773 mil moçambicanos devem enfrentar níveis agudos de insegurança alimentar de outubro de 2024 a março de 2025; razões incluem a violência na província de Cabo Delgado e maior probabilidade de tempestades tropicais, ciclones e inundações com a chegada do fenômeno La Niña.

A insegurança alimentar aguda deverá aumentar tanto em magnitude como em gravidade em 22 países e territórios, de acordo com um novo relatório das Nações Unidas, divulgado nesta quinta-feira.

O levantamento destaca os Territórios Palestinos, Sudão, Sudão do Sul, Haiti e Mali como os locais sob o nível de alerta mais elevado. O conflito é a principal causa da fome em todas estas áreas.

Impacto da violência em Moçambique

A publicação, desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e pelo Programa Mundial de Alimentos, PMA, coloca Moçambique, juntamente com Chade, Líbano, Mianmar, Nigéria, Síria e Iêmen, na lista de países de alta preocupação.

O relatório afirma que em Moçambique a situação de insegurança alimentar aguda deve piorar devido ao conflito na província de Cabo Delgado e eventos climáticos extremos induzidos pelo fenômeno La Niña, que estão agravando perdas agrícolas.

Estima-se que 773 mil pessoas devem enfrentar níveis agudos de insegurança alimentar, de outubro de 2024 a março de 2025.

Aumento de tempestades ciclones e inundações

A situação de paz e segurança em Cabo Delgado deteriorou-se no primeiro semestre de 2024, após a retirada da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique.

A escalada, caracterizada por aumento e disseminação geográfica da violência, deixou mais de 160 mil deslocados de janeiro a julho de 2024, o que representa um aumento de 140% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Além disso, o evento La Niña aumenta a probabilidade de tempestades tropicais, ciclones e inundações mais frequentes de novembro a abril, o que deve impactar negativamente os meios de subsistência em todo o país.

 Em Angola afectada pela seca, pequenos lagos estão sendo partilhados por famílias e animais, aumentando a ameaça sanitária de doenças transmitidas pela água (arquivo)
Unicef/Carlos César
Em Angola afectada pela seca, pequenos lagos estão sendo partilhados por famílias e animais, aumentando a ameaça sanitária de doenças transmitidas pela água (arquivo)

Procupação com seca em Angola

O levantamento da FAO e do PMA indica que apesar da falta de dados recentes, a situação de segurança alimentar em Angola é preocupante e requer monitoramento.

As províncias do sul e do leste foram afetadas por uma seca induzida pelo fenômeno El Niño. Os baixos estoques de alimentos e a falta de oportunidades de trabalho na agricultura diminuíram significativamente o poder de compra das famílias.

A inflação no país tem aumentado de forma constante, atingindo 31,1% em julho.

Soluções precoces, específicas e diplomáticas

O diretor geral da FAO, Qu Dongyu, disse que a situação nos cinco principais focos de fome é catastrófica.  Segudo ele, “as pessoas enfrentam uma situação de extrema falta de alimentos e fome sem precedentes, impulsionada pela escalada de conflitos, crises climáticas e choques econômicos”.

Para a diretora executiva do PMA, Cindy McCain, “chegou a hora dos líderes mundiais intensificarem e trabalharem para alcançar as milhões de pessoas em risco de fome”. De acordo com ela, isso significa fornecer soluções diplomáticas para os conflitos e usar a influência para permitir que os profissionais humanitários trabalhem com segurança.

O relatório sublinha que é essencial tomar medidas precoces e específicas para evitar uma maior deterioração da crise e evitar mortes em massa relacionadas à fome.

A FAO e o PMA apelam aos líderes mundiais para que priorizem a resolução de conflitos, o apoio econômico e as medidas de adaptação climática para proteger as populações mais vulneráveis ​​à beira da fome.