Guterres pede a países-membros que ajudem a elucidar morte de ex-chefe da ONU em queda de avião na África
Dag Hammarskjöld perdeu a vida, aos 56 anos, em setembro de 1961, ao lado de outras 15 pessoas, durante viagem oficial; inquérito aponta para retenção de informações cruciais em vários arquivos nacionais; atual líder da ONU diz que famílias merecem resposta.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou ao Presidente da Assembleia Geral o relatório sobre a investigação da morte do ex-líder das Nações Unidas, Dag Hammarskjöld. O documento foi entregue a Guterres pelo ex-chefe do Judiciário na Tanzânia, Mohamed Chande Othman, designado para apurar o caso.
A carta enviada ao presidente da Assembleia Geral, Philémon Yang, foi acompanhada do Relatório da Pessoa Eminente e está na internet, à disposição de todos os países-membros da ONU assim como do público.
Uma pessoa sobreviveu por alguns dias
O ex-secretário-geral Dag Hammarskjöld morreu, aos 56 anos, na madrugada de 17 para 18 de setembro de 1961 durante uma viagem oficial à África. O avião em que estava caiu na localidade de Ndola, na Rodésia do Norte, onde hoje fica a Zâmbia. Além do ex-secretário-geral, a aeronave transportava mais 15 pessoas entre tripulação e funcionários da ONU. Somente uma sobreviveu à queda imediatamente, mas morreu dias depois no hospital devido aos ferimentos graves.
Hammarskjöld havia assumido o posto de secretário-geral, oito anos antes, em abril de 1953.
Até hoje, não se sabe o que causou a queda do avião. No relatório, divulgado neste 18 de outubro, o relator afirma que pode haver informações relevantes e cruciais para a elucidação do caso que ainda não foram divulgadas por países-membros das Nações Unidas.
Momento crítico
Num relatório anterior, publicado em 2017, o ex-chefe da Justiça da Tanzânia, citou depoimentos de testemunhas que contaram ter visto mais de uma aeronave no espaço aéreo, e que uma delas parecia ser de um jet, que teria distraído o piloto no momento crítico da aterrissagem, ou de que um dos aparelhos teria atacado o avião do ex-secretário-geral. Além disso, há relatos de que a aeronave DC6, registrada como SE-BDY, estava pegando fogo mesmo antes de cair. Também se cogitou que uma bomba teria sido plantada dentro do avião.
No mês passado, o atual secretário-geral da ONU, António Guterres, depositou uma coroa de flores para marcar 63 anos da morte de Dag Hammarskjöld. Ele prestou tributo ao compromisso do ex-chefe da ONU com a organização assim como à dedicação e à devoção do ex-secretário-geral à causa da paz. Guterres também homenageou todos os que morreram com Hammarskjöld e disse que suas famílias merecem respostas.
Forças armadas de Katanga e pessoal de inteligência
A reabertura do caso ocorre após uma decisão da Assembleia Geral em 2014. Desde então, o número de informações e evidências tem aumentado com os mandatos concedidos pela Assembleia à Pessoa Eminente e ao Painel de Especialistas Independentes.
Guterres se mostrou encorajado com a quantidade de dados importantes incluindo nas áreas de prováveis interceptações por países-membros de comunicações relevantes para o caso, a capacidade das forças armadas de Katanga, ou de outros, de terem conduzido um possível ataque ao voo do secretário-geral, a presença de paramilitares estrangeiros e pessoal de inteligência, e outras informações importantes para o contexto dos acontecimentos de 1961.
Após a avaliação do valor probatório da informação coletada, o secretário-geral tomou nota da opinião do chefe da investigação de que há muitas teorias sobre a potencial causa ou causas da queda do avião, e que muitas dessas teorias não foram substanciadas.
Sabotagem ou erro humano intencional?
O relatório aponta para a possibilidade plausível de que um ataque externo ou uma ameaça tenha sido a causa da queda da aeronave. E outras hipóteses indicaram que a queda teria sido resultado de uma sabotagem ou de um erro humano intencional.
Ao receber o relatório, o secretário-geral da ONU saudou a sinalização de certos países-chaves a continuarem comprometidos no contato com a Pessoa Eminente, que chefia o relatório sobre a investigação.
Para o ex-chefe do Judiciário na Tanzânia, é quase certo considerar que informação específica, crucial e até agora não divulgada exista nos arquivos dos países-membros. A solicitação para a divulgação dessas informações já foi feita e o chefe da ONU apoia o pedido.
António Guterres pediu a todos que renovem sua determinação e compromisso em perseguir a inteira verdade sobre o que aconteceu na trágica madrugada de 1961. Ele pediu aos países-membros que divulguem qualquer documento relevante sobre o caso e prometeu fazer tudo que estiver a seu alcance para apoia o processo, incluindo em seu contato com as nações.