Podcast ONU News: Jornalista fala sobre clima e aventuras na Antártida
Ela também contou sobre as interações com as forças militares do Brasil, Chile e Equador, e a importância da cooperação internacional na pesquisa científica. Confira as experiências sobre as mudanças climáticas e a necessidade de ações individuais para mitigar seus efeitos, relatando suas observações de degelo acelerado e os eventos extremos no Brasil.
ONU News: A convidada deste Podcast ONU News é Patrícia Azevedo. A jornalista explorou o gelo da Antártida para mostrar ao mundo o impacto da mudança do clima. A ação contra as alterações climáticas é uma das 17 metas globais. Ao lado das forças brasileiras, ela chegou a lugares extremos do planeta e conta na série “Antártida Terra de Todos”. A região vem passando por ondas de calor sem precedentes e no último ano foi registada a menor extensão de gelo marinho. Patrícia, o que despertou seu interesse pela Antártida?
Patrícia Azevedo: Então, eu sou de Recife, no nordeste do Brasil. Eu vivo num lugar extremamente quente, mas eu tinha um sonho: chegar no extremo frio do planeta Terra. Disparidade. Eu vim buscando saber como fazia isso. E foi quando eu pensei… dentro do governo federal existe um projeto que é do Ministério da Cultura, eu dei entrada no projeto justamente porque eu sempre tive o desejo de mostrar para o brasileiro que a Antártida, de fato, é o quintal da casa dele. É o sétimo país mais próximo da Antártida e as pessoas desconhecem; Além do que, nosso país, o Brasil, temos uma das melhores estações do mundo no continente gelado e as pessoas não conhecem com tanta propriedade. Então, eu encaminhei um projeto, foi aprovado, submeti à Marinha do Brasil, que validou e me convidou a embarcar. E foi uma experiência incrível que a gente vai conversar sobre isso.
ONU News: Qual foi seu maior desafio no frio polar?
Patrícia Azevedo: Com certeza, para mim, que sou do calor, o frio. Mas eu fui muito bem agasalhada e hoje existem tecnologias que nos permitem ficar quentinho. A única coisa que de fato para mim… Cada um de nós tem um ponto que eu acho que deve doer mais um pouquinho e no meu caso eram as mãos. Eu perco calor muito rápido nas mãos. Se elas estão aquecidas, eu estou tranquila.
ONU News: Você dizia também sobre a interação com a natureza também, que também foi um desafio.
Patrícia Azevedo: Eu fui três vezes já para a Antártida. A primeira vez eu fui em um voo para convidados, a Marinha leva até a base chilena, Eduardo Frei Montalva. Eu fui muito bem recebida pelos militares do Chile que me convidaram para ir de carro conhecer o local. Era um pouco distante de onde desce o avião brasileiro até a praia. E quando nós chegamos lá eu tive o privilégio de ver uma cena. Eu não estava gravando ainda, estava fazendo o piloto. Em 2018, eu vi uma cena de duas focas numa briga enorme. E quando terminou uma ficou na pedra totalmente ferida. E a reação, lógico, como ser humano, a reação foi olhar para o militar chileno e disse assim: Vamos ajudá-la de alguma forma? Você tem como ajudá-la? E aí ele olhou para mim, ou seja, aprender in loco, e falou assim: “Patrícia, olha para o céu”. Quando eu vi, eram aves sobrevoando. E aí ele falou: “Estamos no final do inverno”, era outubro e a gente não pode interferir na cadeia alimentar. Alguém precisa morrer para que outros possam sobreviver. E aquelas aves esperavam que aquela foca morresse para poder sobreviver.
ONU News: Você esteve na base brasileira e chilena. O que destas interações que você presenciou serve para a humanidade?
Patrícia Azevedo: A Antártida é conhecida como “terra de todos”. Terra de todos porque ela não tem dono. Ela é autorizada para que os 29 países que lá estão, com suas estações e bases, eles possam focar na ciência mundial. E os países têm por lei cooperação internacional. Então, a experiência que eu tive, por exemplo, com relação ao Chile, a experiência com relação ao Equador… Da primeira vez que eu fui, eu vi o Chile ser parceiro do Brasil para que nós possamos descer o avião na base chilena e assim seguirmos com os navios brasileiros até a estação brasileira, porque o Brasil não tem pista de pouso para avião com asa. O Brasil tem pista de pouso para helicóptero. Então existe essa parceria. Da segunda vez, foi quando eu passei dois meses, eu vi a cooperação internacional voltada para o Equador. Que pesquisadores brasileiros nós fomos levar para Maldonado, a estação equatoriana, e levar alguns suprimentos para eles nos nossos navios, enquanto pesquisadores equatorianos ficaram na base brasileira. Então, os países se ajudam entre si e isso reflete no nosso dia a dia, isso é muito importante. É importante a cooperação, comigo e vocês, como jornalistas, com as pessoas na rua… Se nós, entre esses seres humanos que habitamos aqui nesse globo terrestre, não nos interagimos com pessoas para que a vida seja melhor, como vai ser?
ONU News: Patrícia, você nos enviou no ano passado um vídeo contando sobre algumas coisas que você percebia da mudança climática. Nas suas redes sociais você também tem falado bastante sobre mudança climática e mencionou as inundações que aconteceram no Rio Grande do Sul. Qual sua reflexão sobre o tema?
Patrícia Azevedo: Isso é uma coisa que me toca profundamente, porque quando eu estava na estação brasileira, a gente chama de nosso pontinho verde da Amazônia, porque ela é toda verde, naquele ambiente branco. E muitas vezes eu saía e ficava só sentada numa pedra, contemplando a natureza. E eu ouvia. Era longe de onde eu estava. Um pouco. Você tem que ir de bote para geleira Stenhouse e Ajax, são duas geleiras próximas da estação, ao lado esquerdo e eu ouvia nitidamente o gelo. Ele faz um barulho enorme, ele quebra. E ele cai. Ele faz ondas quando cai. E muitas vezes chegava na praia na frente da estação, pedras enormes. E aí no dia que a Marinha autorizou eu ir de bote para gravar, eu passei uma noite pedindo. Eu sei que não é uma coisa interessante a geleira está desabando, mas eu preciso gravar para mostrar. E exatamente quando a gente chegou que estacionou o bote num local seguro, distante, a geleira desabou. E aí foi um impacto, um corre-corre, porque não foi aquele momento perfeito, parado no local com a lente olhando. Foi exatamente na hora que a gente chegou, ela começou a cair e desabar e todo mundo sai da frente. Eu fiz uma live com o Jefferson Simões, que é o professor responsável de clima e tal, e conversando com vários pesquisadores durante o período que eu fiquei, inclusive um deles me mostrou uma foto mostrando a frente da estação há 10 anos e hoje como está. A geleira, existe a naturalidade dela do degelo, mas ele está acelerado. É o que tem acontecido, depende muito das nossas atitudes. E aí uma coisa que eu tenho batido muito na minha rede social é de como é importante você fazer a sua parte, da menos forma que você pensar que seja. Se você vai tomar um banho, fechar a água e depois ligar, usar uma garrafinha e não plástico… São coisas mínimas que a gente aprende, mas a gente precisa colocar no nosso dia a dia para que realmente isso seja uma avalanche de pessoas colaborando para que isso não seja tão rápido.
ONU News: Você viu o gelo in loco, captou imagem e depois volta para o Brasil e vê agora a tragédia no Rio Grande Sul. Que relação é que eles têm e o que é que você tem aprendido desta experiência?
Patrícia Azevedo: Olha, nesses últimos quatro anos, focando muito na Antártida, e agora, por conta disso que aconteceu no Rio Grande do Sul, uma tragédia absurda, conversando com o Jefferson Simões, que é um dos profissionais que me dá consultoria, sempre foi muito solícito. Os pesquisadores brasileiros conseguem identificar pontos chaves e eles passam para as autoridades. Só que aí essas pesquisas, tudo que envolve, precisam ser dado maior atenção para que tragédias como essa sejam evitadas. Isso sim importa. Porque as pesquisas têm sido feitas para poder minimizar os impactos. Agora é fato, se principalmente a América do Sul, que é exatamente no pontinho mais próximo, não fizer o seu dever de casa, que é isso que eu tenho comentado, não adianta. O globo, por si só, é um ciclo. Ou seja, tanto a Antártida quanto o Ártico, ele é um regulador.
ONU News: Você tem projetos de voltar para o Polo?
Patrícia Azevedo: Eu espero muito em breve. No meu site, eu fui convidada pela Swan Hellenic, que é uma empresa de turismo internacional fantástica, a conhecer, até então eu só tinha ido com a Marinha Brasileira. Inclusive, eu quero agradecer muitíssimo o patrocínio da Petrobras. A Petrobras acreditou no projeto. Acreditou, porque ela também trabalha com o assunto meio ambiente e investiu nele. Em novembro do ano passado, aqui em Nova Iorque, essa empresa, a Swan Hellenic, me convidou para conhecer o outro lado, fora da ciência, fora do meio militar, que é o turismo internacional. O turismo internacional para quem puder conhecer a Antártida, é algo impactante. Você chegar num ambiente único do planeta para ver aquela imensidão de gelo e os animais in loco. Então, agora, a partir do momento da série, eu estou começando a levar pessoas para embarcar comigo numa aventura incrível para a Antártida.
Eu fui em novembro. Em novembro é frio, tem nevasca. Mais para frente, dezembro, janeiro, fevereiro… Há uma incidência, inclusive maior de animais, porque está mais quebrado, o mar degelado, está mais picotado para que os navios consigam transitar. E eu tive experiências incríveis, como por exemplo, Polar Plongée. Eu tive a experiência de mergulhar, me lançar literalmente só de maiô nas águas congelantes da Antártida. Você tem um tempo, vai com uma cordinha com toda segurança, você se joga e sobe, mas você tem a sensação da temperatura da água, que é única no planeta Terra. E tive outra experiência, que foi duas horas andar de caiaque por entre o gelo e com o habitar da natureza em volta. É algo assim, literalmente único