A polêmica da vez: o banimento dos celulares nas escolas
Por Dra. Angélica Lira
Cada vez mais o uso de smartphones está presente no cotidiano das famílias, que presenteiam seus filhos ainda em tenra idade. Crianças e até bebês se divertem com vídeos curtos, redes sociais, desenhos e jogos, passando horas a fio diante das telas com seus pequenos dedinhos. Essa distração permite que os adultos realizem tarefas que antes seriam impossíveis, desde atividades diárias, com estudo e ações domésticas, até compromissos profissionais e sociais.
Esse excesso de exposição infantil a dispositivos eletrônicos vem sendo objeto de estudo e preocupação de especialistas em saúde mental. Atrasos no desenvolvimento cognitivo, problemas de sono, transtornos alimentares, obesidade, insônia, dificuldades de interação social são apenas alguns dos efeitos já relatados por profissionais, devido ao vício causado pelo uso frequente do celular.
Mas, essa preocupação não é exclusiva de profissionais da saúde.
No início desse ano, um decreto da Prefeitura do Rio de Janeiro proibiu o uso de smartphones em salas de aula e durante o recreio pelos alunos das escolas públicas da rede municipal de ensino, deixando a cargo dos profissionais da educação a utilização desses aparelhos para atividades pedagógicas. Essa medida foi precedida de uma consulta pública e foi bem recebida por mais de 80 % das respostas obtidas.
O vício em telas e a nomofobia – medo ou angústia de não poder acessar conteúdos digitais, o que pode levar à irritabilidade, ansiedade e depressão – vêm preocupando especialistas ao redor do mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório sugerindo o banimento de celulares em instituição de ensino. Restrições já foram rompidas em diversos países, como Espanha, Portugal, Estados Unidos, França, Holanda, Finlândia, Itália e México.
Recentemente, o Ministério da Educação abordou o tema e propôs uma discussão a visando a elaboração de um projeto de lei que regulamenta medidas de proibição dos aparelhos celulares nas escolas.
Em evento, no último dia 20, o Ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou “que o uso dos celulares tem sido um prejuízo aos alunos”. Ele acrescentou, “Com base em estudos científicos, em experiência mostrando o prejuízo do uso desse equipamento livre para os alunos nas escolas, vamos discutir inclusive se a proibição será em sala de aula ou na própria escola”.
A medida tem sido bem recebida por diversos setores da sociedade, inclusive por muitos pais e mães, mas levanta uma nova questão: a segurança das crianças. Alguns responsáveis justificam o envio do celular com seus filhos e filhas à constante sensação de insegurança, para obter informações imediatas sobre localização e integridade física de seus rebentos.
Por outro lado, não há consenso entre os educadores sobre a eficácia da medida, já que muitos defendem a inclusão digital como necessária para atividades escolares, especialmente em uma era de grande avanço tecnológico. Para contornar o problema, algumas escolas utilizam equipamentos próprios para fornecer aos alunos as ferramentas digitais e tecnológicas, evitando que os aparelhos individuais causem distrações e prejudiquem o desempenho acadêmico. Enquanto isso, cada instituição educacional tem a responsabilidade de definir seu próprio método pedagógico e avaliar a viabilidade de implantar regras para o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos, tanto nas salas de aula quanto nas dependências escolares, inclusive em momentos de lazer.
Essa discussão segue em aberto, o desafio agora é encontrar um equilíbrio entre a necessidade de manter as crianças conectadas ao mundo digital e a urgência de proteger sua saúde mental e desempenho escolar. O futuro das políticas relacionadas ao uso de celulares nas escolas ainda será moldado pelas vozes da sociedade, especialistas, educadores e responsáveis, buscando sempre o melhor para o desenvolvimento das próximas gerações.